quarta-feira, 25 de março de 2015

Sobre o abandono

Nunca tive problemas com a solidão até descobrir o que é estar junto. Sempre fui única e não fazia nada por ninguém. Ruim na queda, sabe? Mas agora tudo mudou. Foi só bater o carro que sinto saudades de quem fez parte do meu caminho. Eu que nunca quis dividir, porque sabia como seria difícil o abandono, agora não sei lidar com as eventualidades do meu dia a dia.
Já se passaram alguns meses e apesar das mudanças que cortaram o meu coração, ainda me sinto deixada de lado. Se é normal?! Não sei. O abandono nos faz procurar o outro em qualquer ocasião, e essa sensação eu não desejo a ninguém. Me sinto impotente com palavras morrendo engasgadas no fundo do meu peito. Sou capaz de esquecer por horas essa saudade e mágoa que carrego, e são nesses milhares de segundos que a segurança de estar só parece completa, porém quando ela passa, um furacão volta. Mais do que deixar ir, é obrigar a ir. E esse é o pior tipo de abandono. É aquele que segue em frente, que se torna frio, rápido, e cheio de saudades.
Então, eu parei de lidar com um sentimento que não era capaz. Meus pesadelos têm um pouco daquele abandono e eu só queria sonhar, sem medo de dormir. Lembro daquela fuga que conseguiu desmoronar com os meus sonhos. Rápido, exato e silencioso. Não me arrependo de nada e não desejo ser infeliz. Jamais poderia querer ser assim depois de experimentar a felicidade. Mas se sentir abandonada é tão inútil quanto o papel que tive a algum tempo atrás. Percorri um caminho para ter certeza de que não aconteceria de novo e aqui estou eu. Reescrevendo sobre um abandono que já deixou de ser do lado de lá. Falando mais uma vez sobre o que acabou, sobre o que estragou e sem ninguém para ouvir.
Dos filmes que passo todos os dias na minha mente muitos são lembranças de algumas mentiras e amores, mas o que mais dói é assistir aquele em que sou abandonada com os meus medos e sentimentos. Esse é o papel que nunca esqueço de atuar, e por mais forte que eu seja para fugir dele, o mundo conspira para lembrar que a única coisa que me pertence é o silêncio, a solidão e as lembranças de uma época em que eu estava completamente feliz.
A felicidade agora é conceitual e depende das marcas que gritam agitadas no meu peito sem poder dizer muito.
- Jana Escremin

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